"Vai comer ou vai tirar foto?”
Fotos e vídeos exibindo extravagâncias, dotes culinários, turismo gastronômico,
pratos favoritos, belas louças e aquele restaurante da moda, ditam um ritmo agitado
nas redes sociais. Afinal, a que se deve essa avalanche de informações
compartilhadas sobre o que se come? E, mais importante, por que há uma seleção
desse conteúdo divulgado online?
O psicólogo Luiz Gomes analisa a exposição de pontos que constroem a nossa
narrativa online como algo bem particular. Porém, logo depois que enviamos um
sinal, não temos mais domínio de como ele será recebido.
Nesse sentido, mostrar o que comemos nessas redes também faz parte de um
processo de construção de sentidos. “Expor o que a gente come está diretamente
ligado ao que queremos expor de saúde, de corpo saudável, bem estar, sucesso e
beleza. Quando selecionamos os pequenos recortes dos nossos cotidianos nesses
espaços, isso inclui em como queremos ser percebidos pelos outros”, avalia o
psicólogo.
Entretanto, Luiz destaca que não tem uma crítica totalmente negativa em relação a
essas ações e que não atribui qualquer tipo de juízo de valor. “Percebo que algumas
pessoas compartilham dicas de como fazer um prato, de como utilizar menos e não
estragar alimentos. Elas já possuem essa sensibilidade em relação a comida e
procuram subverter esses discursos maiores”, destaca.
Engajamento online
Foi a paixão pelas diversas nuances da comida que fez com que a professora Rita
de Cássia de Santana criasse um perfil no Instagram sobre o tema. A página
“Comer, Beber, Sentir” conta atualmente com mais de 16 mil seguidores e foi
lançada apenas no começo desse ano, em fevereiro: “A minha relação com a
comida é um caso de amor sério. Gosto das cores, de sentir o gosto, de ver o
preparo dos alimentos. O meu trabalho de dissertação foi sobre alimentação e
passei a perceber como algo muito além, entendendo o alimento como algo sócio-histórico e cultural”.
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A página “Comer, Beber, Sentir”, que tem atualmente 16 mil seguidores, destaca os prazeres visuais da comida e valoriza tanto o de fora como o local |
Rita acredita que a comida gera interesse e envolve tanta gente porque é algo
democrático. “Acho que a comida é uma importante forma de conexão. As pessoas
costumam se reunir em volta de uma mesa e no centro está o alimento. Quando tiro
uma foto, procuro o melhor ângulo, como uma pintura, para sensibilizar quem vai
ver a imagem”, conta, garantindo que posta de tudo: desde os pratos mais simples
aos mais elaborados, passando também pela valorização de pratos tipicamente
piauienses.
O envolvimento de marcas e empresas com a indústria da comida online é
constante. Alysson Dinis é publicitário e trabalha com foco na internet há pelo
menos 7 anos. Para ele, a comida evoluiu como pauta nas redes sociais, assim
como várias outras atividades diárias, por conta do melhor desempenho das
tecnologias atuais, como a evolução de smartphones, câmeras mais qualificadas e
uma conexão mais eficiente: “As pessoas compartilham rotina o tempo inteiro. E o
que é melhor na nossa rotina do que comer? (risos)”.
Com essa expansão de mercado e costumes, Alysson acredita que a comida gera
engajamento online imediato entre perfis pessoais e de marcas. As pessoas
compartilham o que comem e naturalmente despertam interesses. “O digital tem um
potencial de viralização muito alto e alcança pessoas do mundo inteiro. Isso gera
negócios e demanda um esforço muito grande das marcas”, explica.
Por: Laís Santiago
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